5.30.2002

Corpus christi

Andrea pra tia Dadá. Tia Leda e Zé Odécio pra cá.
Confluência perversa
As portas da percepção e céu e inferno

Terminei de ler o livro de Aldous Huxley durante o lançamento do livro da Dra. Evelina Dagnino na ADUFC



Lançamento do livro de uma professora da UNICAMP sobre ESTADO e SOCIEDADE CIVIL
Movimento Social


PENSAJOSÉ - ENTRE

O.K., Lula, Você Venceu


João Mellão Neto


O.K., Lula, você venceu. Pela primeira vez eu estou acreditando que você tem chances reais de chegar ao poder. O
raciocínio é simples. Segundo as pesquisas, você tem quase 40% das intenções de voto, o que - salvo a hipótese de
você morrer - o coloca irreversivelmente no segundo turno. Se houver segundo turno.


Quem será o seu adversário? Não é difícil de adivinhar. Garotinho terá exíguos dois minutos por dia na TV durante
a vigência do horário eleitoral. Vai morrer na praia ou, quando muito, no Piscinão de Ramos. Ciro, por sua vez,
além de ter pouco tempo na TV, carece de consistência política. Ele fala bem, tem boa presença, poderia ser um
novo fenômeno Collor, não fosse o fato de esta eleição não ser solteira. Como não é, ele não tem chances.


Sobra, portanto, o José Serra. É o candidato do governo e tem prestígio nos meios empresariais. Se não for
substituído - o que é improvável -, será ele o seu oponente na reta final. Ora, o Serra não é lá muito carismático. O
mínimo que se diz é que ele é um "genérico" do Fernando Henrique. É um homem inteligente e preparado, sem
dúvida. Mas lhe falta charme político. É difícil imaginá-lo sobre um palanque arrebatando as massas. E esse
talento, Lula, você tem de sobra.


Vamos supor que você venha a vencer as eleições. Já em janeiro do ano que vem você será o nosso presidente
da República. O que mudará no Brasil daí em diante?


É difícil saber. Sua proposta de governo ainda não é conhecida. Por enquanto, é o somatório de todos
os ressentimentos nacionais. Acresçam-se a isso todas as ilusões e utopias e temos, como resultado, o
seu disparado primeiro lugar na preferência popular. No momento em que vestir a faixa presidencial,
você descobrirá que governar é criar descontentes. Fernando Henrique, quando assumiu o poder, pediu a todos
que esquecessem o que ele havia escrito. Você haverá de pedir que esqueçam tudo o que falou.
Realidades amargas o esperam. E você não poderá evadir-se delas.


Você descobrirá, por exemplo, que o figurino moderado e conciliador que os seus marqueteiros criaram para você
não se extingue na campanha eleitoral. Você terá de exercê-lo durante todo o tempo em que permanecer no poder.


Maioria no Congresso você não terá. Ou, melhor, terá somente nos seus primeiros meses de governo.
Os parlamentares sempre apóiam presidentes em início de mandato. Daí para a frente você terá de conquistá-la. E
isso, por si só, significa abrir mão de inúmeras de suas idéias e convicções. Não se sinta tentado a afrontar o
Congresso. Antes de você, Jânio e Collor já o fizeram. E os resultados não foram animadores.


Garantida, a duras penas, a maioria parlamentar, você poderá, então, dedicar-se ao seu sonho de revolucionar o
Brasil. A primeira providência vai ser banir esse perverso modelo econômico "neoliberal".


Não é tão fácil como parece. Você descobrirá que o mundo globalizado de hoje é todo ele "neoliberal". "Um outro
mundo é possível?" Talvez. Mas, por enquanto, essa hipótese não passa de um slogan. Você terá de lidar com esse
mundo, mesmo. E esse mundo é movido pelas cruéis e implacáveis forças do mercado.


"Maldito mercado!", dirá você. "Ele não pode prevalecer sobre as necessidades humanas!" Não
tente telefonar-lhe. Não haverá ninguém na outra ponta da linha. Outra terrível descoberta. Você passou
anos criticando o mercado e agora percebe que o mercado não é uma pessoa, nem um grupo de pessoas, nem
sequer uma corporação. Ninguém o dirige, ninguém o orienta, ninguém é capaz de freá-lo. Ele é tão-somente
uma realidade. É um palco onde interagem 6 bilhões de pessoas sem que nenhuma possa impor-se sobre as demais.


Não tente afrontá-lo, Lula. Muitos tentaram, é verdade. Mas não há no mundo um exemplo sequer de alguém que
tenha conseguido fazê-lo com sucesso. Erguer barreiras para contê-lo é condenar-se ao atraso e à miséria.


É isso aí, Lula. Você é o presidente, mas quem manda na economia é o mercado. Você quer reestatizar? Esqueça,
pois o mercado não deixa. Você quer confiscar propriedades? Desista, porque o mercado resiste. Você pretende
supertaxar os ricos? Não insista, porque o mercado reage. Você tenciona dar um calote na dívida? Não tente,
porque o mercado se vinga. "Puxa vida! Não dá pelo menos para baixar os juros?" Não dá, Lula, pois quem
sinaliza a taxa de juros é o mercado.


"Mas, afinal, que diabos posso fazer?", haverá de perguntar-se você. Muita coisa, desde que obedeça às regras
do mercado. Respeite a propriedade privada, não tolha a livre iniciativa, não iniba os fluxos de investimentos, não
gaste mais do que arrecada, não se fie em dinheiro emprestado. O resto você pode fazer à vontade.


"E as políticas sociais que eu prometi na campanha?"


Você pode empreendê-las desde que não estoure o Orçamento. Existe uma Lei de Responsabilidade Fiscal, você
se lembra?


"Que se dane a lei. Vou gastar o necessário para que haja distribuição de renda!"


Se você fizer isso, criará um déficit; para cobrir o déficit você gerará inflação; ao gerar inflação,
você reconcentrará a renda...


"Mas, então, de que me adianta ser presidente?!" Boa pergunta, Lula.


Percebeu agora por que você é muito mais útil na oposição?

olha que busto legal!